Abordagens Críticas ao Desenvolvimento
O primeiro workshop Abordagens Crítica ao Desenvolvimento foi organizado em novembro de 2018 e acabou por espontaneamente gerar uma ainda incipiente rede de acadêmicas e professionais que se engajam de forma crítica com o tema do desenvolvimento. A partir das contribuições desse primeiro workshop, criamos este espaço para compartilhar saberes e vivências e construirmos juntos alguns diálogos.
Nossa conversa começou com uma reflexão comum:
​
O discurso mainstream do desenvolvimento mostra inúmeros sinais de fracasso. Do lado de sua formulação, há muito tempo apontam-se as limitações do foco em projetos baseados em formulações lineares, causais e cientificistas, instrumentos top-down e objetivos vagos pautados quase exclusivamente no cumprimento de metas sob monitoramento onipresentes e demandantes. Do lado de seus efeitos, décadas de projetos mainstream de desenvolvimento não impediram—e, ao contrário, parecem em muitos casos ter contribuído para—a exacerbação da desigualdade global, a retirada de direitos e proteções sociais e o esgotamento ambiental. Mais ainda, frequentemente estes projetos continuam incapazes de contemplar sujeitos e formas de vida distintas dos padrões modernos ocidentais, senão pela lógica da falta—falta de recursos, de bens, de condições para o desenvolvimento, de resiliência. Finalmente, no âmbito de sua reforma e adaptação, a proliferação de novas práticas no desenvolvimento mainstream--cada qual baseada na mais recente inovação conceitual da área—desacompanhada de reflexões e práticas que atentem para as margens do campo e do debate muitas vezes servem apenas para manter a máquina funcionando sob diferentes roupagens, sem de fato contribuir para a inclusão. Enquanto o motto da Agenda 2030 da ONU diz “não deixar ninguém para trás”, por exemplo, há que se observar criticamente o perigo que uma “revolução de dados” adicione camadas de desigualdade ao diferenciar ainda mais em termos de competências e recursos tecnológicos, reforçando o status de uma ciência ocidental que muitas vezes desqualifica conhecimentos locais sem concretizar a promessa de melhores vidas.
Diante do cenário atual de polarizações, fake news, retrocesso global em alguns ganhos sociais e ameaças ao meio ambiente, a necessidade de um engajamento crítico com o discurso do desenvolvimento faz-se urgente, principalmente se capaz de mesclar perspectivas acadêmicas e profissionais em um debate rico e diverso. Entretanto, como a crítica ao desenvolvimento mainstream frequentemente se volta apenas a um novo conceito, uma nova boa prática e a manutenção do status quo, é preciso abordar com cautela o que aqui chamamos de “abordagens críticas ao desenvolvimento", compreendendo sua diversidade, mas impondo como limite de engajamento mínimo o partir das margens, o olhar inclusivo e a atenção a formas outras de conhecimento. Neste contexto, o que esperar de abordagens críticas sobre o desenvolvimento e ao desenvolvimento? O que esperar da crítica às formas mais problemáticas do desenvolvimento internacional em geral? Que tipo de recursos teóricos e práticos podem não apenas fornecer a necessária crítica, como também seu impulso transformador?
Objetivos:
​
Os principais objetivos da rede e dos workshops organizados desde 2018 são
​
a) permitir a formação de um corpo de saberes compartilhados baseados em experiências e perspectivas do Sul Global, a fim de recentrar o debate sobre desenvolvimento com olhar a partir das margens. Diante de uma divisão desigual de trabalho na produção global de conhecimento, a iniciativa busca oferecer teorizações robustas que partam de conceitos e vivências do Sul.
​
b) proporcionar e construir redes através de um diálogo plural entre academia, ativismo e setores profissionais do desenvolvimento, com vistas a aprendizados coletivos, desacordos saudáveis e colaborações estratégicas.
​
c) com esses passos, a longo prazo, repensar o papel da produção de conhecimento sobre alternativas ao desenvolvimento e desenvolvimentos alternativos.
​
Pretende-se que essas atividades estejam sempre permeadas de práticas de mentoria e compartilhamento de maneira geral.